quinta-feira, 1 de maio de 2014

Retalhos
 
Eu nego. Definitivamente não aceito ter sido feita de uma costela. Nem mesmo quando me dizem que as mulheres são fortes por causa disso. Ainda assim não me convenço. Sou feita de retalhos. De tecidos variados. Tecidos leves, finos, transparentes. As vezes pesado, quente, sufocante. Coloridos ou preto e branco, macios, estampados e lisos, desenhados ou com frases escritas, com brilhos e opacos. Com perfume de flores, com cheirinho de roupa lavada pela mamãe (um dos melhores cheiros do mundo, quando eu lavo, usando as mesmas coisas, não ficam com o mesmo cheiro). Não estou dizendo com isso, porém,  que sou vulnerável a moldes, mas que a mim podem se costurar várias misturas, várias texturas diferentes, com linhas fortes ou mais fracas, a sua escolha, ou, a nossa escolha.
Gosto de pensar assim, pois os amigos que tenho são tão diferentes uns dos outros, com manias e ideias tão discrepantes e isso é o que mais me encanta neles todos. Costuro-os fortemente a mim, mas tem hora que o tecido rasga. Como sou feita de retalhos, daquelas colchas de vários pequenos tecidos costurados uns nos outros, sempre acho um buraco perdido nele. Sempre vejo uma lembrança dentro de mim, sempre vem uma saudade arrancar um sorriso ou uma lágrima. Esses retalhos me são muito preciosos. Sorrio sozinha no ônibus de volta pra casa. Choro pela casa a cada gole de vinho tomado sozinha. Mas me sinto em paz por ter no meu caminho pessoas tão especiais. Não tenho como mensurar o que sinto, o tamanho do amor que tenho dentro de mim... isso faz crescer a saudade que dilacera meu coração, mas sobrevivo, ou, vivo mesmo, com cada boa recordação.
 
MAG...

Nenhum comentário:

Postar um comentário